Com o avanço da tecnologia, temos à nossa disposição muitos recursos para produzirmos um som de bateria de alta qualidade, graças a uma ampla variedade de excelentes samplers e softwares de edição poderosos.
Por esse motivo, é cada vez mais comum encontrar produtores que buscam informações sobre mixagem de bateria, a fim de mixar suas produções em seus Home Studios. No entanto, muitas vezes eles se deparam com um excesso de informações, e infelizmente muitas delas são questionáveis.
E é inegável que obter um bom som de bateria acústica não é simples, pois depende de muitos outros fatores, como a qualidade do músico, do instrumento, da sala e dos equipamentos.
Portanto, antes de prosseguir com este artigo, recomendo que leia primeiro o artigo sobre a captação de bateria. Lá, eu explico todos esses detalhes. A mixagem é apenas a continuação do trabalho que iniciamos na gravação. Se você já leu e está interessado em obter o melhor som de bateria, está no lugar certo.
Existe Mixagem de Bateria?
Primeiramente, é importante destacar que o termo “mixagem” vem do inglês “mix”, que significa misturar. A mixagem consiste na mistura de todos os instrumentos, e a bateria é apenas mais uma pista nessa mistura. Portanto, podemos concluir que a “mixagem de bateria” não é um termo correto. O que realmente existe é o processamento da bateria durante a mixagem, e é esse aspecto que vamos abordar neste conteúdo.
Como Editar Bateria?
Atualmente, existem muitos softwares de correção de tempo, como Cubase, Pro Tools, Logic, Studio One, Reaper, entre outros. No entanto, independentemente do software que você esteja utilizando e desde que não esteja buscando um efeito artístico, a regra a ser seguida é manter o processamento ao mínimo.
Quanto mais simples e específica for a correção de tempo, menos efeitos colaterais serão gerados. Com isso em mente, é sensato evitar a configuração automática do tipo “clique e esqueça”.
Pessoalmente, não sou adepto de processos automáticos para correção de tempo, pois eles processam praticamente tudo, independentemente da necessidade real da música ou de como o processamento está afetando o som da bateria.
A verdade é que a maioria dos profissionais renomados ainda prefere realizar o trabalho de edição da bateria manualmente, para que possam sempre confiar em seus próprios ouvidos. Alguns até utilizam o processamento automático, mas posteriormente revisam tudo.
Normalmente, sugiro trabalhar a performance ao máximo, mesmo que seja trecho por trecho. Com os recursos de edição atuais, é possível melhorar consideravelmente o tempo, mas infelizmente não a interpretação.
Ao trabalhar dessa maneira, você descobrirá que muitas notas não são realmente tão importantes para transmitir a sensação de que o baterista está perfeitamente no tempo. Tentar alinhar cada batida do hi-hat no grid é uma ótima maneira de prejudicar uma performance.
As ferramentas de processamento automático na edição podem economizar muito tempo, especialmente ao trabalhar com várias faixas, mas sempre considero melhor revisar tudo manualmente.
Com tudo isso em mente, aqui estão alguns outros problemas específicos a serem considerados no momento da edição:
Agrupe todas as tracks para editar. Nuncaedite track por track isoladamente. Ou seja, quando você coloca um bumbo no grid, todas as tracks precisam se mover junto, caso contrário, você terá um problemas de fase.
Evite ao máximo editar hihat e ride. Acredite, essas edições deixam a bateria artificial.
O que é Fase?
Quando temos um instrumento como bateria, que precisamos usar vários microfones, SEMPRE precisamos verificar a fase.
A fase no áudio se refere à diferença de tempo entre duas ondas sonoras ou sinais de áudio. Quando duas ondas sonoras estão em fase, seus picos e vales ocorrem ao mesmo tempo, resultando em um reforço do som. Quando estão fora de fase, os picos de uma onda coincidem com os vales da outra, resultando em cancelamento do som.
Ou seja, uma bateria fora de fase, perde bastante pressão. Alguns produtores gostam de alinhar a fase de todos os microfones com a caixa, inclusive os overheads e os microfones de sala. Isso cria uma sonoridade bem característica. Caso queira saber mais sobre a fase, assista o vídeo sobre a fase no meu canal do youtube.
Adicionando Samplers
Atualmente, a busca por um som com pressão é cada vez maior em alguns estilos, e acabamos recorrendo à adição de samplers na bateria acústica, e às vezes até substituindo o som acústico.
Os samplers são uma excelente carta na manga, e muitas vezes salvam uma sonoridade ou execução não tão boas.
Isso é algo muito pessoal, pessoalmente prefiro trabalhar ao máximo o som acústico, e adicionar os samplers somente o necessário para melhorar a sonoridade.
Editar com os olhos
Ao editar a afinação ou o tempo, é importante reconhecer que nós, humanos, tendemos a favorecer a visão em detrimento da audição, o que pode facilmente nos enganar ao realizar tarefas detalhadas no estúdio.
Se uma batida parece correta no grid da sua DAW, seu cérebro irá fortemente influenciá-lo a acreditar que soa correta, quando na realidade, uma performance naturalmente editada e no tempo geralmente não se alinha perfeitamente a esses grids.
Não estou sugerindo que as grades de tempo do seu software não sejam úteis ao sugerir como uma nota que soa estranha pode ser ajustada de maneira sensata. Na verdade, elas podem economizar muito tempo. No entanto, é essencial disciplinar-se para fechar os olhos ou desviar o olhar da tela o máximo possível ao escolher notas para ajuste e ao decidir se suas alterações melhoraram a situação.
Pessoalmente, após editar cada seção da música, costumo levantar-me da cadeira do estúdio e ouvir a música em outra parte da sala, de costas para a tela.
É surpreendente como as decisões se tornam mais claras quando saímos do “modo de edição” e adotamos mais a mentalidade de ouvinte, longe dos faders.
Fenômeno Psicológico
Um fenômeno psicológico importante a se considerar é que a sensibilidade ao tempo aumenta à medida que uma determinada frase é ouvida repetidamente.
De fato, é por isso que as produções de estúdio se beneficiam mais de uma afinação precisa do que as performances ao vivo, já que é mais provável que os ouvintes escutem a gravação várias vezes.
Por outro lado, esse aumento progressivo na sensibilidade perceptiva torna mais fácil cometer erros na edição, uma vez que começamos a ouvir nuances de tom e tempo que, na realidade, não afetarão a consciência dos ouvintes comuns.
Então, aqui está um breve resumo da edição de bateria que eu ensino no Audio Expert.
Mixagem
Após a bateria estar bem gravada, bem editada, vamos estudar sobre as principais técnicas para deixar a bateria impecável na mixagem.
Equalizador
O equalizador é uma ferramenta essencial na mixagem, e na bateria não é diferente. Mesmo que a bateria soe bem por si só, é necessário equalizar para que se encaixe na mixagem quando outros instrumentos são adicionados, caso contrário, ficará muito alta ou baixa.
Não vou entrar em detalhes sobre os parâmetros dos equalizadores, pois não é o foco deste artigo. Se você deseja dominar o equalizador, recomendo que baixe o Ebook “Dominando o Equalizador”. Nele, explico tudo o que você precisa saber sobre a ferramenta, as técnicas utilizadas para aprimorar o som, os equalizadores clássicos para cada instrumento, equalizadores para masterização, fase linear e muito mais.
Ao equalizar a bateria, o principal objetivo é garantir que ela se encaixe bem na mixagem. No entanto, também podemos utilizar a equalização para tornar o som mais atraente, como adicionar um pouco mais de peso ao bumbo ou realçar o brilho dos tambores em torno de 10 kHz.
Como Equalizar Bateria?
Bumbo
Os graves estão entre as frequências 50 a 100 Hz.
Os médios (normalmente feios) entre 200 a 800 Hz.
Definição (kick) entre 2 a 4 kHz.
Caixa
Graves (corpo e peso) em torno 200 a 300 Hz.
Médios (ring bom ou ruim) entre 400 a 500 Hz.
Agudos (definição) entre 3 a 5 kHz.
Tons
As frequências variam conforme seu tamanho e pele usada.
Os graves estão entre 150 a 300 Hz.
Os médios (normalmente atenuados) variam entre 400 a 800 Hz.
Os agudos (definição na baquetada) 1k a 5 kHz.
Overheads e Pratos
As frequências variam conforme seu tamanho e pele usada.
Os graves estão entre 150 a 300 Hz.
Os médios (normalmente atenuados) variam entre 400 a 800 Hz.
Os agudos (definição na baquetada) 1k a 5 kHz.
Quando usamos overheads, além de caparmos os pratos, captamos a bateria como um todo, criando uma liga no som, além de poder trazer uma ambiência.
Os overheads podem ser bons aliados, pois sua posição consegue captar de forma mais uniforme a bateria como um todo. Aqui, podemos fazer um ajuste para deixar o som da bateria o melhor possível somente com esses microfones.
Mas, se gravarmos com os microfones extremamente perto dos pratos, com o objetivo de captar mais os pratos, podemos atenuar bastante o restante da bateria aplicando um filtro High Pass em 700, 800 Hz.
Graves de 60 à 300 Hz, médios entre 400 à 800 Hz, agudos entre 1 a 5 kHz, brilho entre 10 e 12 kHz.
Hihat
Normalmente, o microfone do HiHat é usado apenas para somar ao som captado pelos overs e pelo microfone de cima da caixa. Nesse caso, sempre uso filtro High Pass em torno de 300 Hz, podendo chegar até 1 kHz.
Se o Hihat precisar de mais brilho, podemos adicionar agudos acima de 1 kHz. Mas, se já tivermos muito brilho vindo dos microfones da caixa e dos overs, podemos adicionar um pouco de corpo, em torno de 300, 400 Hz.
Qual Equalizador devo usar na Bateria?
Na prática, a maioria das vezes optamos por usar um equalizador paramétrico, já que os equalizadores gráficos, devido ao seu Q fixo, caíram em desuso. O equalizador de fase linear é mais comum na masterização, pois seu processamento requer muitos cálculos, o que pode resultar em latência na DAW.
No caso do equalizador digital, a precisão na seleção de frequências é uma vantagem, sendo excelente para ajustes precisos. Por outro lado, o equalizador analógico ou sua emulação em plugins tendem a adicionar mais cor ao áudio, sendo uma boa opção para conferir um timbre especial à bateria.
Noise Gate
O noise gate é um equipamento ou plugin que é usado para controlar o nível de ruído em um sinal de áudio. Ele funciona cortando o sinal quando o nível de ruído está abaixo de um determinado limiar, ajudando a eliminar ruídos indesejadosou vazamentos e melhorar a qualidade do áudio. O noise gate é comumente na bateria, principalmente nos tambores.
Pensamos na bateria como uma orquestra, onde vários instrumentos não tocam ao mesmo tempo. Portanto, quando o tambor não está sendo tocado, não queremos que o som do microfone capte o bumbo e a caixa, já que temos microfones específicos para eles. Nesse sentido, o noise gate é uma ferramenta muito útil.
Além disso, podemos usar o noise gate para apenas atenuar o sinal, ou seja, em vez de fechar completamente o canal, ele apenas reduz o volume. Outra técnica seria acionar o noise gate através do sidechain, o que proporciona um corte mais preciso. Todas essas técnicas, tanto para bateria quanto para muitas outras situações, podem ser encontradas no Audio Expert.
Assim, como o equalizador, não vou me aprofundar nos parâmetros do compressor. Caso queira dominar o Compressor, tenho um Ebook Grátis chamado Tudo sobre Compressores. Nele você aprende em detalhes as melhores técnicas de compressão de áudio, mesmo que você seja iniciante e não tenha conhecimento nenhum.
Compressão Paralela
A compressão paralela envolve manter o sinal original e criar uma cópia do sinal com bastante compressão. O sinal resultante é diferente, pois os transientes permanecem intactos na pista original. Por exemplo, na bateria, muitos engenheiros de mixagem costumavam experimentar essa técnica com suas ferramentas analógicas no passado. No entanto, no mundo digital, é possível somar as duas pistas – a original e a comprimida – sem nenhum efeito colateral de fase. Se desejarmos um som mais comprimido, basta aumentar o volume do canal comprimido, ou vice-versa.
Outra dica é usar a compressão paralela para criar uma compressão ascendente. Sim, é possível utilizar a compressão paralela para aumentar o volume, como por exemplo, aplicando-a apenas nos refrões.
Mas, ao aplicar compressão paralela, principalmente no analógico, temos que verificar se não está alterando a fase. Eu explico isso em detalhes no Audio Expert.
Como usar o compressor na Bateria?
Ataque lento = mais transientes (mais punch).
Ataque rápido = menos transientes (menos punch).
Release sempre no tempo da música = faça o medidor de redução de ganho baixar antes da próxima batida.
Dê preferência por compressores que respondem bem aos transientes, como os FETs e VCAs (às vezes, os ópticos funcionam no bumbo e surdo).
Adicionar compressão paralela pode soar muito bem.
Efeitos na Bateria
Dependendo do estilo musical, a bateria pode se beneficiar de diferentes tipos de reverb, como Plate, Hall e até Room. Se deseja aprender mais sobre esses efeitos, recomendo a leitura do artigo sobre Reverbs.
O ajuste do tempo dos efeitos de bateria varia de acordo com a música. Músicas mais lentas se beneficiam de reverbs longos, enquanto em músicas mais rápidas, o reverb deve ser mais curto, para evitar um som embolado.
Se você captou o som de uma sala na gravação da bateria, experimente compriir bastante o sinal, pois isso realça o som da sala, reduzindo a necessidade de usar reverbs.
Para obter um som vintage, não deixe de experimentar o reverb Chamber.
Curso de Mixagem
Caso queira aprender tudo sobre produção musical…não deixe de conhecer o Audio Expert. Lá, você encontra muitas outras dicas de produção musical.
Você não apenas dominará todas as técnicas essenciais de gravação, mixagem e masterização, mas também se tornará um mestre em design de estúdio, acústica e gestão de carreira, abrindo um mundo de possibilidades para você na indústria musical. Seja bem-vindo ao curso que transformará sua paixão em profissão.
Conclusão
Neste resumo, busquei condensar algumas dicas sobre edição e mixagem. Se você deseja aprofundar seus conhecimentos no mundo da produção musical, abrangendo gravação, edição, mixagem e masterização, recomendo conhecer o Audio Expert. Trata-se do treinamento mais abrangente de produção musical disponível, no qual explico todas essas etapas em mais de 360 vídeos detalhados, passo a passo.
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Eduardo Rabuske
Produtor Musical, engenheiro de som e guitarrista: Formou-se em Produção Fonográfica na Unisinos e continuou seus estudos em cursos no Rio Janeiro (Brasil) e em Hamburgo (Alemanha). Já realizou trabalhos com artistas de todo o Brasil que vão do gospel à vaneira e rock, como Tchê Barbaridade, Tchê Garotos, Renato Borghetti, Alexandre Móica (Acústicos e Valvulados), Bidê ou Balde, Tequila Baby, Frank Solari, Kiko Freitas, Felipe Duran e outros.
Treinamentos: Desenvolveu o Audio Expert, um dos melhores treinamentos para produtores musicais e engenheiros de áudio da atualidade.
Projetos Acústicos: Realiza projetos arquitetônicos com tratamento e isolamento acústico para estúdios, residências e auditórios.
RKE Studio: Proprietário do RKE Studio, um dos maiores estúdios do sul do Brasil.
Excelente artigo, com certeza uma das melhores explicações para o entendimento de conhecimento musical. Parabéns
Muito obrigado Xará! Abraços